«Mstislav Rostropovich, talvez o maior violoncelista do século XX, morreu ontem de manhã, aos oitenta anos. Numa longa carreira onde a parte musical foi acompanhada por gestos públicos corajosos, Rostropovich conheceu alguns dos principais artistas e líderes do século XX.
Rostropovich nasceu a 27 de Abril de 1927 em Baku, no Azerbeijão, uma das repúblicas da então União Soviética. A família, de origem russa, mudou-se para Moscovo quando ele tinha quatro anos. Filho de músicos, a criança cedo se revelou um prodígio. Teve como primeiro professor o pai, igualmente violoncelista. Aos oito anos deu o primeiro concerto público.
No conservatório Rostropovich foi aluno de Prokofiev e Shostakovich. Este último dedicou-lhe várias obras, e os dois seriam amigos até à sua morte, em 1975. Foi um dos casos em que o violoncelista pôde apreciar a repressão e o sofrimento a que a URSS submetia os artistas.
Rostropovich não demorou a ganhar notoriedade, e aos 23 anos recebeu o prémio Estaline, a maior honra concedida aos artistas na URSS. Em 1955, casou com Galina Vishnevskaya, primeira soprano do teatro Bolshoi. Nos anos seguintes fez uma carreira sobretudo doméstica, mas a partir dos anos 60 começou a viajar pela Europa. No Reino Unido conheceu o compositor Benjamin Britten, com quem passou a colaborar no festival de Aldeburgh.
Em 1970, quando o escritor Alexander Soljenitsin, se viu em dificuldades por ter escrito O Arquipélago de Gulag, Rostropovich, que era seu amigo, ofereceu-lhe abrigo em sua casa. O gesto, acompanhado de uma carta de protesto que o jornal Pravda recusou – mas que saiu publicado na imprensa estrangeira – incompatibilizou-o com as autoridades soviéticas.
Nos anos seguintes, o casal Rostropovich conheceu a experiência de se ver ostracizado. Concertos e gravações canceladas, banimento de certos grupos, proibição de viajar… Levantada esta em 1974, o casal Rostropovich foi para o estrangeiro e já não voltou. Só regressaria com o fim da URSS.
Em 1989, Rostropovich viajou para Berlim quando o muro estava a ser desmantelado e tocou ao pé dele. Uma outra intervenção pública, ainda mais notória, teve lugar em Agosto de 1991, quando um golpe de estado contra Gorbachov ameaçou fazer perder a liberdade no país. Boris Yeltsin liderou a resistência, e Rostropovich juntou-se a ele dentro do parlamento russo, contribuindo para que não fosse tomado violentamente.
Como violoncelista, Rostropovich aliava um temperamento emocional a uma técnica perfeita. A lista de compositores que escreveram obras para ele inclui, além de Shostakovich (e do próprio Prokofiev, através da revisão de um concerto para violoncelo que resultou na Sinfonia Concertante), Britten, Dutilleux, Bernstein e Khatchaturian. Ficaram célebres as suas interpretações de Bach, Haydn e Dvorak, entre outros. No caso de Bach, a última gravação das suites suscitou alguma polémica, havendo quem a achasse idiossincrática.
Além de violoncelista, Rostropovich foi maestro, tendo realizado inúmeras gravações, com diversas orquestras. Foi igualmente professor. Como intérprete, no entanto, a sua influência foi inultrapassável.
Morreu a 27 de abril de 2007 de cancro no intestino. »
in Expresso
Para sempre ficam os seus actos e as suas gravações.
1 comentário:
é o que eu digo... qualquer dia já nada nos resta, só mediocridade...
mas fica sempre a obra, o exemplo e o Homem.
um bom trabalho, parabéns!
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