25 de janeiro de 2007

SOBRE A JUVENTUDE E A VELHICE

"O verdadeiro teste de maturidade não é a idade de uma pessoa mas sim o modo como reage ao acordar em cuecas no meio da cidade. Que importa a idade, principalmente se o nosso apartamento é de renda limitada? O que é preciso lembrar é que cada época da vida tem as suas compensações própias, ao passo que quando se está morto é difícil encontrar o interruptor da luz. A propósito, o problema principal da morte é o medo de que não existe outra vida - um pensamento deprimente, em particular para os que se deram à maçada de fazer a barba. Há também o medo de que exista outra vida para além da morte, mas que ninguém venha a saber onde. No seu aspecto positivo, a morte é uma das poucas coisas que se podem fazer facilmente mesmo deitado.
Consideremos então: a velhice é assim tão terrível? Não, se tiveres lavado fielmente os dentes! E porque é que não há um travão para a arremetida dos anos? Ou um bom hotel no centro de Indianápolis? Ora...
Em resumo o melhor que há a fazer é comportarmo-nos de acordo com a nossa idade. Se tens dezasseis anos ou menos tenta não ficar careca. Por outro lado, se tens mais de oitenta, é de muitíssimo bom tom descer a rua a arrastar os pés agarrando um saco de papel castanho e a murmurar: «O Kaiser vai-me roubar o cordel.» Lembra-te, tudo é relativo - ou devia ser. Se não é, temos de começar outra vez."

Woody Allen - "Prosa Completa" - Ed. Gradiva, 2005

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